Inclusão

Professora do DF leva prática de ioga a deficientes visuais pela internet

Formada em educação física, Patrícia Michelle Barros organiza projeto de aulas on-line durante a pandemia da covid-19. Iniciativa atende 14 pessoas, atualmente. A ideia é manter o distanciamento social e, ao mesmo tempo, oferecer atividades para melhorar a coordenação motora dos alunos

Pedro Marra
postado em 14/12/2021 06:00
Professora de yoga Patrícia Michele Barros, 47, dá aulas on-line desde março deste ano -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A.Press)
Professora de yoga Patrícia Michele Barros, 47, dá aulas on-line desde março deste ano - (crédito: Ed Alves/CB/D.A.Press)

Respeitar as restrições impostas pela pandemia da covid-19 e adotar o distanciamento social. Com essas duas preocupações, o projeto social Yoga para Deficientes Visuais começou em 17 de março para oferecer aulas on-line a esse público. Coordenada virtualmente pela professora de educação física Patrícia Michelle Barros, 47 anos, a iniciativa atende 14 alunos. "A ioga proporciona ao deficiente visual maior consciência corporal e espacial, equilíbrio físico e emocional, coordenação motora e lateralidade, trabalhando globalmente, juntamente com a interação do grupo", explica a profissional, que tem 22 anos de experiência.

Patrícia diz que aprendeu, no decorrer do projeto, a desenvolver no deficiente visual um forma de olhar para si mesmo. "Isso de modo que os desafios da vida sejam enfrentados de forma leve, valorizando suas possibilidades", destaca. O poder da fala para orientar os alunos com narração das orientações é outra habilidade que teve de ser aperfeiçoada no projeto. "De forma precisa e muitas vezes lúdica, conto sempre com a ajuda dos alunos, envolvendo muita concentração na respiração", relata a professora.

A animação com o andamento das sessões on-line fez Patrícia planejar aulas presenciais a partir de janeiro. Quem garante que não vai deixar de participar é a primeira aluna do projeto, Viviane Santos, 25. A moradora do Gama e consultora em acessibilidade costumava andar de bicicleta no Centro Poliesportivo da cidade e encontrou nas aulas virtuais uma forma de praticar uma atividade física sem sair de casa e se expor. "Era tudo novo para mim, mas com o tempo foi mais natural, e ela (professora) fazia a descrição detalhada de todos os movimentos que a gente fizesse", recorda-se. "Passei a caminhar melhor, e, hoje, faço os movimentos naturalmente só pelo tanto que nos foi detalhado nas aulas, porque o ioga trabalha diretamente nos pontos fracos para evitar esbarrões, torção de tornozelo e fortalecer músculos que a gente costuma lesionar por conta dos obstáculos (da rua)", completa a jovem.

Alexandra Rocha, 45, durante aula on-line de yoga com a professora Patrícia Barros
Alexandra Rocha, 45, durante aula on-line de yoga com a professora Patrícia Barros (foto: Arquivo pessoal)

Família envolvida

No Distrito Federal, segundo estimativa da Secretaria da Pessoa com Deficiência (SEPD), há cerca de 70 mil deficientes visuais, considerando os totalmente cegos, pessoas com baixa acuidade visual, com visão monocular, entre outros. Uma delas é a moradora de Samambaia Sul Alexandra Pereira Rocha, 45, que envolveu a família nas aulas de ioga.

Ela vive com o marido massoterapeuta, também deficiente visual, que, às vezes, participa das aulas. Há três meses na prática dos exercícios, a aluna substituiu as pedaladas e a musculação pela ioga. "Fiquei mais em casa nesta pandemia e quase não fazia atividade física, mas a ioga está me ajudando muito na flexibilidade, no equilíbrio e a ter mais atenção na minha rotina", detalha Alexandra.

Com aulas de três a quatro vezes por semana, Alexandra enfatiza a segurança que o projeto dá. "Só tenho a agradecer à Patricia por essa iniciativa, pois o que ela me ensina, eu passo para o meu pai, de 79 anos, que tem problemas de coluna", revela. Para a aluna, a orientação que recebe da professora durante as aulas virtuais são muito precisas. "O bom é que a Patrícia vai narrando como a gente faz cada exercício. E percebi a diferença no dia a dia, porque os movimentos ajudam a gente a ter mais confiança ao andar na rua", exemplifica.

Marido de Alexandra, Luiz Célio Pereira da Silva, 42, admite que teve dificuldade de aprendizagem no começo, pois a professora está do outro lado da câmera e precisa narrar corretamente as posições. "Mas, no decorrer do tempo, fui me ajeitando, e, hoje, estou mais concentrado ao andar na rua na direção certa, principalmente se eu for atravessar a pista, porque às vezes a gente atravessa na diagonal", ressalta.

Antes de entrar no projeto, o massoterapeuta participava de um grupo de ciclismo no Jardim Botânico junto da esposa. Com a pandemia, o casal decidiu começar as aulas on-line. "A gente ri se estou fazendo certo ou não uma posição durante a aula", conta Luiz. Com expectativa de ter aulas presenciais em janeiro de 2022, o massoterapeuta se mostra motivado. "Pretendo continuar, porque só trouxe benefícios na minha vida", celebra.

Morador de Ceilândia Norte, Cristian Silva da Cunha, 43, faz ioga on-line há duas semanas pelo celular. Antes de participar da iniciativa, ele pedalava cerca de 30km por dia, jogava futebol e fazia natação. "Não tive dificuldade em me acostumar com o projeto, que comecei a fazer por experiência a convite da minha amiga Alexandra e estou gostando muito, principalmente das aulas de alongamento", reconhece. Com total cegueira, Cristian tem motivos de sobra para comemorar o Dia Nacional do Deficiente Visual, celebrado na segunda-feira (13/12). "O que me auxilia é a bengala, mas, agora, tenho a percepção ainda melhor do espaço onde estou", avalia.

Conheça

Projeto Social Yoga para Deficientes Visuais

» Professora Patrícia Michelle Barros
» Ioga, pilates e educação física
» Contato: 61 995-762-611
» Aulas on-line: pelo Google Meets ou WhatsApp

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